ATA DA DÉCIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 22.06.1995.

 


Aos vinte e dois dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e cinco reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio "Eduardo Abelin" para os cineastas Jorge Furtado e Giba Assis Brasil, conforme Projetos de Resolução nºs 15/92 (Processo nº 770/92), de autoria do Vereador Antonio Hohlfeldt e 48/94 (Processo nº 2460/94) - Requerimento nº 102/95 (Processo nº 952/95), de autoria do Vereador João Motta. Compuseram a Mesa: Vereador Clóvis Ilgenfritz, no Exercício da Presidência neste Ato, os Senhores: Luiz Paulo de Pilla Vares, Secretário Municipal de Cultura, representando o Senhor Prefeito Municipal neste Ato, Jorge Furtado e Giba Assis Brasil, Homenageados, Hans Baumann, Presidente do Clube de Cultura e o Jornalista Firmino Sá Brito Cardoso, representante da Associação Riograndense de Imprensa - ARI. Ainda, o Senhor Presidente registrou as presenças dos Senhores: Estilac Xavier, Secretário Municipal de Obras e Viação e do escritor Luis Fernando Veríssimo, assim como a dos Vereadores Antonio Hohlfeldt, Lauro Hagemann, João Motta e Reginaldo Pujol. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome das Bancadas do PSDB, PDT, PMDB, PP, PTB, PPR e PPS, disse que os Homenageados são pioneiros desta nova fase do cinema gaúcho, caracterizando Jorge Furtado como o cineasta das coisas impossíveis e Giba Assis Brasil como o cineasta das utopias. Agradeceu ao Vereador João Motta pela oportunidade de reunir as homenagens, dizendo que continuará pagando ingresso para assistir aos filmes realizados pelos Homenageados, com muito carinho e muita alegria, por considerar o cinema que realizam muito importante para a sociedade. O Vereador João Motta, em nome da Bancada do PT, destacou a atuação dos Homenageados como cineastas. Afirmou que não considera a atividade parlamentar meramente uma prática política, sendo que este Ato tem uma profundidade, uma dimensão que agrega e dá sentido a esta Instituição. Disse, também, que esta Casa tem muito a aprender com os cidadãos desta Cidade. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, saudou os Homenageados, salientando que eles se afirmaram num segmento difícil porque a competição na área de cinema é muito forte. Destacou, ainda, a forma idealista, com amor e empenho com que desenvolvem suas atividades. A seguir, o Senhor Presidente convidou os Vereadores Antonio Hohlfeldt e João Motta para que entregassem o Prêmio de Cinema "Eduardo Abelin" aos Homenageados, concedendo, logo após, a palavra aos mesmos. Jorge Furtado e Giba Assis Brasil agradeceram a Homenagem prestada pela Casa e a Concessão do Prêmio de Cinema acima citado. A seguir, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às vinte horas e dezoito minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Clóvis Ilgenfritz e secretariados pelo Vereador João Motta, Secretário "ad hoc". Do que eu, João Motta, Secretário "ad hoc" determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e pelo Presidente.

 

 

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia fiel do documento original.)

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clóvis Ilgenfritz): É com muita honra que presido esta Sessão Solene destinada à entrega do Prêmio de Cinema Eduardo Abelin para os cineastas Jorge Furtado e Giba Assis Brasil. Os processos são, respectivamente, do Ver. Antonio Hohlfeldt, nº 770/92, que dá o prêmio ao cineasta Jorge Furtado, e o Proc. nº 2460/94, do Ver. João Motta, que dá o prêmio ao cineasta Giba Assis Brasil.

Temos a honra de convidar para participar da Mesa: o Secretário Municipal de Cultura, que representa o Sr. Prefeito Municipal neste ato, o Sr. Luiz Paulo de Pilla Vares; o cineasta Jorge Furtado, nosso homenageado; Giba Assis Brasil, cineasta, também nosso homenageado; o Presidente do Clube de Cultura, Hans Baumann; o representante da Associação Riograndense de Imprensa, o Jornalista Firmino Cardoso.

Queremos registrar a presença do Secretário Municipal de Obras e Viação, Estilac Xavier, e de personalidades importantes, parentes, amigos, convidados, nosso querido escritor Luis Fernando Verissimo, e dizer, desde já, da nossa imensa satisfação em ter presentes todos os senhores e senhoras para homenagear esses dois expoentes da nossa cultura. Também quero registrar a presença dos Vereadores Reginaldo Pujol, Lauro Hagemann e João Motta.

Com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará pelas Bancadas do PSDB, PDT, PMDB, PPR, PTB, PP e PPS.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Ver. Clóvis Ilgenfritz, Presidente dos trabalhos. É muito especial ter o Clóvis na presidência hoje, pois acho que é a primeira vez que tenho a oportunidade, numa Sessão Solene, de falar com o Clóvis presidindo.

Eu digo que é especial para mim porque essa caminhada que hoje nos tem aqui, na Casa, começamos juntos lá, no escritório do Clóvis, ali perto da Igreja Santa Terezinha. Por outro lado, falo na representação do meu partido, o PSDB, dos companheiros do PDT, do PMDB, PTB, PPR e do PP, muito especialmente do Ver. Lauro Hagemann, que também é um colega não apenas de Câmara, de longos anos, mas também um colega de lutas na área do jornalismo e de quando tive a oportunidade de integrar a direção de um sindicato junto com o Lauro e de outras tantas lutas que temos desenvolvido por aí.

E agora tenho como motivo a entrega, pela primeira vez, de um prêmio que se destina, simultaneamente, a dois realizadores gaúchos e a dois realizadores que são praticamente da mesma geração que este Vereador, que é o Jorge Furtado e o Giba Assis Brasil, e também, por múltiplas razões, colegas e companheiros. O Giba porque a gente se pecha a toda hora lá, nos corredores da FAMECOS da PUC, como nos encontramos em tantos momentos dessa história de cinema, e do Jorge Furtado porque o meu encontro com o Jorge Furtado começa com o Jorge Furtado, não o que está aqui, mas o outro, que está na platéia, que é o pai dele - longos anos de Prefeitura junto com o meu, hoje Chefe de Gabinete e meu ex-chefe, que é o Prof. Lamarte, lá no tempo do Pref. Thompson Flores e depois em outras lutas que nós realizamos.

Essa proposição, afinal de contas, foi iniciada pelo Ver. João Motta, que também reúne a mesma geração e que teve essa feliz idéia de relembrar o nome de um verdadeiro pioneiro do cinema gaúcho, que foi Eduardo Abelin, para formalizar um prêmio que, de uma certa maneira, faltava na Câmara de Vereadores, a Câmara que, inicialmente, havia criado o Prêmio Érico Veríssimo, que foi o primeiro prêmio que a Câmara instituiu na área da literatura, há muitos anos, em homenagem ao nosso maior escritor contemporâneo. Posteriormente, nós tivemos a oportunidade de criar um prêmio de teatro, uma proposição minha - Qorpo Santo. Tivemos, depois, o Prêmio Lupicínio Rodrigues, na música. Mais recentemente, Iberê Camargo, nas artes plásticas, e, nesse meio tempo, o Prêmio Eduardo Abelin, no cinema.

Acho que a Câmara escolheu bem os nomes dos que dão os títulos às premiações, e o Luis Fernando sabe disso muito bem. Há pouco tempo ele foi homenageado com o prêmio que leva o nome de seu pai.

Acho que reunir aqui o Jorge Furtado e o Giba Assis Brasil, em primeiro lugar, é uma façanha do Motta, porque, quando o Giba está, o Jorge não está, o que é bom para o cinema gaúcho, porque mostra que eles estão trabalhando; é ruim para nós, porque a gente tem dificuldade de encontrá-los pela Cidade. O Giba cada vez mais, junto com o Jorge, saindo do Rio Grande do Sul, realizando outros trabalhos no centro do País e, por sua vez, levando o nome brasileiro para fora das fronteiras, como é o caso do Jorge com aquele prêmio fantástico lá em Berlim, que a gente lia e não acreditava. Acho que essas coisas, por si só, já justificariam essas homenagens.

Mas gostaria de chamar a atenção de porque a denominação "Eduardo Abelin" casa muito bem com os dois primeiros que receberam esse prêmio, porque à sua maneira cada um deles também tem sido vanguarda e tem sido pioneiro. O Jorge eu diria que é o verdadeiro cineasta das coisas impossíveis. Quem viu o cinema do Jorge deve ter ficado surpreso com a maneira dos enfoques com que ele consegue abordar cada tema.

Eu lembro, Jorge, que, quando vi "Ilha das Flores" pela primeira vez, eu ficava me perguntando até onde este cara quer chegar, porque jogava para lá, dobrava, voltava para cá e relacionava com outra coisa, e aquilo para a gente provocava uma reflexão, que talvez andava devagar, porque estávamos nos perguntando "sobre". As imagens do filme eram alucinadas. Não dava muito tempo para a gente parar; então, a gente ficava meio que empurrado, queria parar para pensar mas era empurrado, continuamente, pela provocação das imagens. E acho que, se eu fosse daqueles tipos italianos que, no final da ópera, urram e pedem bis, certamente no cinema eu teria feito igual, mas aí a luz acendeu, bateu a timidez, a gente aplaudiu muito entusiasmado, e acho que essa experiência tem-se repetido ao longo das milhares de vezes em que o "Ilha das Flores" já foi projetado, porque é uma coisa fantástica. De repente, esses curtas viraram moda, viraram "cult movie" em Porto Alegre, no Rio Grande e fora do Rio Grande. Não foi premiação aqui ou ali, não; foi mania. E aí junta com o Giba, porque, se eu diria que o Furtado, realmente, é o cineasta das coisas impossíveis, como é o filme "Barbosa"... Quer dizer: pegar essas angulações desse pobre coitado desse goleiro lá dos anos 50, que não é o Danrlei de ontem... Evidentemente não foi a mesma situação, mas, de toda maneira, foi terrível, uma verdadeira tragédia no Maracanã. A descoberta de um outro enfoque, eu diria, por trás das redes, que o filme realiza, realmente é um negócio fantástico para não se esquecer do filme, que, talvez, tenha sido o filme mais badalado que ele realizou. Anterior a todos esses, esse episódio engraçadíssimo retirado do romance de Tabajara - "O dia em que Lorival encarou a guarda" -, que trabalha com elenco gaúcho, gente nossa e que consegue dar um tom naquele episódio do romance do Taba e que sai daquele panorama escuro, cinzento, que é, evidentemente, uma prisão, nas condições políticas em que o filme e o romance se desenrolam, para mostrar, sobretudo, uma coisa que tem uma perspectiva diria erótica, no sentido do termo, uma perspectiva de vida, uma perspectiva de resistência, de realização, de afirmação da vontade humana, da capacidade daquele homem que, apesar de estar preso, não havia se entregado e que encontrou um ator fantástico para encarnar a figura.

Quanto ao Giba, eu diria que é um outro tipo de cineasta. Diria que é o cineasta das utopias. Vejam que "Deu pra ti anos 70", ainda hoje, quase vinte anos, gerou uma trilha sonora que roda até hoje no rádio. Gerou uma expressão que é a expressão conhecida da nossa geração e das gerações posteriores, que é exatamente a expressão "deu pra ti". Essa referência dos anos 70 que o Giba realmente transcreveu fixou-se como uma expressão que nós encontramos a toda a hora. Na experiência minha, em sala de aula, na FAMECOS, volta e meia a gurizada fala "deu pra ti", não completa; talvez vá ter que dizer anos 90. Mas a expressão ficou, criada, exatamente, a partir dessa perspectiva.

Mas o Giba não se limitou a falar de uma determinada geração, de determinadas idéias, de coisas que estavam passando e que nós desenvolvemos e que ele retornou, depois, em “Verdes anos", por exemplo. Ele teve coragem de selecionar o que eu considero um dos textos mais bonitos da literatura do Rio Grande do Sul, que é um conto do Caio Fernando Abreu que se chama "Aqueles dois" e transformar isso num filme absolutamente fascinante pela história que conta, que é mérito do Caio, mas que é mérito do Giba também, porque mudar a linguagem, trazer isso para uma outra linguagem é extremamente complicado, sobretudo na literatura intimista que o Caio desenvolve e que dá, sobretudo, dignidade e respeito àquelas personagens e àquele drama colocado.

Portanto, neste sentido, é uma ocasião muito importante hoje, pela primeira vez, nós fazermos a entrega deste prêmio. E como o Jorge fugiu deste prêmio durante três anos, coincide agora a homenagem com a do Giba. Então, nós estamos fazendo a entrega do prêmio a dois, realmente, pioneiros desta nova fase do cinema gaúcho, que espero que permaneça durante muito tempo com todos os desafios que a APTC sabe muito bem como enfrentar e encaminhar a cada ano, ora com o Governo do Estado, ora com o Governo do Município. Acho que, enquanto nós tivermos gente disponível e disposta a brigar, como o Jorge Furtado e o Giba Assis Brasil, no campo do cinema, com outros tantos companheiros, a política partidária, nos campos das diferentes artes, da literatura ao teatro, nós vamos continuar acreditando exatamente na possibilidade de uma expressão maior das pessoas de um modo geral. E, nesse sentido, nós temos aqui companheiros de luta como o Baumann, que traz consigo e sua esposa toda uma história do Clube de Cultura, que tem um espaço extremamente democrático de onde, de uma certa maneira, o Jorge e o Giba também surgiram e onde também atuaram, o que envolve o Ver. Lauro, como a mim, por exemplo, por termos acompanhado o Clube de Cultura em diferentes ocasiões, em diferentes momentos.

Encontrar um companheiro como Pilla Vares, que tem toda uma história dentro desta Cidade e que hoje, por isso mesmo, e não é por um acaso, ocupa pela segunda vez a Secretaria Municipal da Cultura; encontrar um companheiro como o nosso já oficialmente designado "Embaixador da ARI", porque realmente - e comentava com ele ainda há pouco - não tem medo do frio ou da chuva e está aqui conosco (nesta altura já é mais Vereador do que, provavelmente, muitos dos trinta e três Vereadores que aqui se encontram); e a alegria de rever companheiros, companheiros com quem a gente tem cruzado em diferentes momentos - a nossa ex-Vereadora e ex-Deputada Dercy Furtado, que afinal tem um pouco de culpa nesta história toda também; reencontrar a Lúcia e o Luis Fernando; reencontrar tantos e tantos companheiros que aqui estão e que têm, cada um, um pouco de história desta Cidade - Secretário Estilac Xavier, que hoje responde por uma área importante da SMOV; Ver. Reginaldo Pujol, que faz questão de estar aqui conosco, que vem de uma outra geração (não estou chamando o Vereador de velho, pois vem de uma outra experiência, e quero deixar isso bem claro, mas vem de uma outra experiência em que houve também outro tipo de cinema, importante, até, para formar esses antecedentes básicos que, depois, o Jorge e o Giba continuaram); enfim, acho que, mais do que uma Sessão Solene, até porque o Jorge e o Giba não gostariam desta palavra tão pomposa ("cineasta" me lembra "plasta" e coisas desse tipo, mas não é bem isso, pelo contrário), estamos fazendo uma reunião de pessoas que acreditam em Porto Alegre, acreditam na cultura, acreditam na arte.

Quero, sobretudo, dizer que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre tem, ao longo desses anos, sido sensível a esse tipo de atividade, a esse lado que é também um lado político da Cidade de Porto Alegre, um lado que possibilita que se leve a Cidade mais longe, que se reflita, que se fixe a Cidade.

Nesta semana em que há toda essa programação em torno do cinema gaúcho, nós estamos revendo esses filmes, reencontrando paisagens da Cidade de Porto Alegre, que mudaram. Estava-me dando conta disso. Outro dia eu passei, Jorge, pela faixa em frente ao acesso à Ilha das Flores e, imediatamente, vieram-me imagens do filme. Lembrava, ainda, Giba, de algumas cenas, de algumas ruas do "Verdes anos". Quando se passa novamente nessa rua, vê-se que ela mudou; há uma árvore diferente, ou a árvore está mais copada; mudaram a cor da casa, mesmo sendo possível identificá-la, porque se sabe onde era.

O filme do Osvil Lopes - "Um é pouco, dois é bom três é demais" - foi feito na velha casa da Dona Eva Sopher, ali na Carlos Gomes, na mansão, levada, depois, para Canela. É uma outra história que se tem que contar, relembrar, e o cinema faz esse milagre, trazendo essas imagens, como se elas não se tivessem modificado.

Eu queria agradecer ao Ver. Motta a oportunidade de juntarmos as homenagens e agradecer, sobretudo, ao Jorge a aceitação dessa proposta quando eu a apresentei à Câmara, e a ti, Jorge, e ao Giba quero dizer que nós continuamos pagando ingresso para ver os filmes de vocês, com muito carinho, com muita alegria, esperando que vocês continuem fazendo o cinema de vocês, que eu acho importante para todos nós. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós queremos agradecer e prestar, também, nossa homenagem aos pais dos dois homenageados: Sr. Jorge Furtado, Sra. Dercy Furtado, Sr. Gilberto Dornelles de Assis Brasil e Sra. Maria Mercedes de Assis Brasil. Recebam, de todos nós, um abraço. Queremos, ainda, registrar a presença, já citada pelo orador, do Dr. Hans Baumann, que é, também, da Diretoria do Clube de Cultura.

Com a palavra, o Ver. João Motta, um dos proponentes da homenagem, que fala também pela Bancada do PT.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os demais presentes.) Gostaria, sem qualquer exagero, de tentar rapidamente interpretar um pouco como sinto que este espaço e este ato de hoje podem estar significando para todos nós e, em particular, para a Câmara Municipal de Porto Alegre.

Talvez não seja uma das Sessões mais suntuosas; talvez os "flashes" não sejam tantos; talvez as autoridades sejam poucas. Gostaríamos que as galerias e o Plenário estivessem lotados, mas gostaria de registrar, com toda a sinceridade, neste momento, para todos nós que estamos aqui presentes, que eu, particularmente, não acho que a atividade parlamentar seja meramente uma atividade política, porque este ato tem uma profundidade, uma dimensão que parece que agrega, que torna e dá um pouco a esta instituição um sentido e uma dimensão daquilo que nós gostaríamos e desejaríamos que fosse, ou seja, uma instituição política que também se debruce e dê atenção a algumas áreas da atividade humana um pouco esquecidas e secundarizadas, tanto em nível dos poderes públicos constituídos, em nível municipal estadual e federal, bem como também por parte da sociedade, sem falar por parte da própria imprensa.

Portanto, eu não estou aqui querendo fazer com que este ato seja como se fosse uma contravenção, como se fosse uma subversão a essa situação, mas, sem dúvida nenhuma, este ato, na minha opinião, ele tem a humildade de buscar, de fazer com que a questão da produção cultural, mais precisamente na área do cinema, com a presença do Giba e com a presença do Jorge, ela diga para a sociedade e diga para esse próprio poder constituído que tem muito a ouvir, muito a aprender com cidadãos desta Cidade. Que essa atividade ela talvez tenha uma dimensão que fuja daquilo que rotineira e ordinariamente nós fazemos aqui na nossa atividade parlamentar. Ou seja: ela tem o foco, ela tem o olhar, ela tem a dimensão, ela tem a radicalidade de viver a vida sob uma dimensão e o talento que nós, Vereadores, sem dúvida nenhuma, regra geral, não conseguimos apanhar. E aí perdemos exatamente a possibilidade de perceber o quanto é imprevisível e o quanto é importante nós termos um contato com esse tipo também de criação humana.

Eu diria que, por mais esforços, por mais profundos que sejam os nossos debates no Plenário, nós nunca, Ver. Lauro Hagemann, conseguimos superar as chamadas regras gerais da objetividade. E eu diria que somente essas atividades que ficam submetidas à lógica da imediaticidade, da objetividade, são rompidas pelo talento e olhar de sujeitos e indivíduos que radicalizam a busca da compreensão sobre a dimensão humana que paira sobre todos nós, que é quando nós, na minha opinião, podemos compreender e atribuir à nossa própria atividade essa dimensão que tem um sentido humano e profundo, ou seja, a transformação radical de que nós somos seres conscientes, com os nossos sentimentos, imperfeições, defeitos, mas que buscamos, creio, uma nova humanidade. Portanto, esse roteiro breve - queiram os prezados homenageados que eu permita usar essa expressão - que nós estamos construindo aqui na Câmara de Vereadores, que eu vou tentar rapidamente sintetizar, esse breve roteiro, ele tem, na minha opinião, essa dimensão.

Portanto, há alguns anos - como já relembrou o Antonio Hohlfeldt, e insisto nisso -, quando também se instituiu em Porto Alegre um prêmio de cinema - no caso, homenageando Eduardo Abelin -, estávamos tentando, exatamente, trazer para cá essa outra dimensão que estava um tanto esquecida na Cidade e na Câmara Municipal. Não que a mera instituição do prêmio fosse resolver isso, mas, repito, essa faceta que seria relembrada tornou-se presente no nosso cotidiano.

Como bem lembrou o Ver. Antonio Hohlfeldt, já tínhamos prêmios na área da literatura, na área da música, mas faltava esse. Esse prêmio foi aprovado há dois ou três anos e coube a vocês, ao Giba e ao Jorge, serem os primeiros homenageados. Vocês irão receber, depois, formalmente, o nosso diploma, o Diploma Eduardo Abelin. Acho que estamos com isso, simbolicamente, dentro desta Sessão, com todas essas características, também escrevendo um roteiro que deve permanecer ao longo da vida e da história como sendo uma construção daqueles que têm a sensibilidade de perceber que não podemos deixar escapar nada do nosso olhar, diria, da nossa câmera. Esse olhar sobre a questão do cinema estava escapando de todos nós.

Portanto, sintetizo, para não me alongar, que esse roteiro tem, em primeiro lugar, a lei que institui o Prêmio Eduardo Abelin e, em segundo lugar, a concessão do Prêmio de Cinema Eduardo Abelin, pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, ao realizador gaúcho Jorge Furtado - esse é o segundo processo. O terceiro processo, que é este roteiro que estamos construindo aqui, concede o Prêmio de Cinema Eduardo Abelin ao cineasta Giba Brasil.

Com alegria, orgulho e emoção, socializo que, mais uma vez, com a ajuda indispensável da APTC, do Giba, de todos os companheiros da diretoria, da dedicação do gabinete do Ver. Lauro Hagemann e da sua assessoria, estamos discutindo na Câmara a quarta peça desse roteiro. É um Projeto de Lei feito por muitas mãos, mas que foi assinado pelo Ver. Lauro Hagemann, que obriga os cinemas de Porto Alegre a exibirem filmes de curta-metragem, de acordo com o art. 13 da Lei Federal nº 6.281/75. Essa é a quarta peça, prezados homenageados, Presidente, companheiro Giba, Senhores e Senhoras, que queremos firmar no Poder Legislativo Municipal de Porto Alegre.

Repito ao concluir: não que isso resolva tudo o que nós temos ainda a relembrar e afirmar com relação à cultura, à arte, ao cinema, aos cineastas, aos produtores, mas, sem dúvida nenhuma, ninguém poderá afirmar que este roteiro, ou seja, o roteiro do cinema, aqui, dentro da Câmara Municipal de Porto Alegre, continua sendo esquecido. Não continua mais. Portanto, por menos "flashes" que existam aqui neste momento, por poucos Vereadores que existam neste momento, pelo público que está presente, eu creio que a simbologia deste ato, na minha opinião, é muito radical, e para todos nós, que não estamos aqui por mero acaso, porque a dimensão da nossa atividade transcende o nosso pronunciamento, está valendo a pena conviver com trinta e três Vereadores e fazer com que cada vez mais as múltiplas facetas da Cidade de Porto Alegre, agora no cinema, sejam incorporadas definitivamente pela cidadania desta Cidade.

Os dois cidadãos, o Jorge e o Giba, recebem formalmente hoje, da Câmara Municipal de Porto Alegre, o reconhecimento pelos seus trabalhos, pelos seus talentos e por muito que farão ainda. Dessa forma, eu acho que nós, humildemente, desta Câmara, estamos saldando, simbolicamente, uma dívida com vocês. Eu tenho absoluta certeza de que, por menos difundida que seja a arte do cinema em Porto Alegre, todos os cidadãos que tiveram a oportunidade de ter algum tipo de contato com a produção e a obra de vocês se sentem orgulhosos de serem cidadãos com vocês nesta Cidade que todos nós amamos, que é a Cidade de Porto Alegre. Um grande abraço a todos e vamos continuar com este nosso roteiro. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Reginaldo Pujol, que falará pela Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os demais presentes.) Faço um protesto de bom humor ao meu prezado amigo Ver. Antonio Hohlfeldt, que, de maneira preconceituosa, quer-me excluir desta homenagem, dizendo que não é a minha geração que está presente aqui, mas a que me precedeu. Eu tenho quase que convicção de que o meu amigo, Secretário Municipal da Cultura, protestava comigo. Nós partilhamos de algumas coisas nesta Cidade, ainda que em trincheiras opostas, na maioria das vezes. Falo pelo PFL e, sobretudo, pela geração dos anos 50.

É preciso regredir um pouco no tempo. Isso me dá uma sensação diferente. Com toda a freqüência, ocupo a tribuna da Casa nesses atos que enaltecem vários de seus integrantes, outorgando-lhes títulos de cidadania, cidadãos eméritos, prêmios, destaques literários, e o faço como um verdadeiro contraponto que demonstre integralmente o sentido dessas homenagens  que extrapolam o ponto de vista ideológico, político, porque esses títulos não se formalizam, esses prêmios não ocorrem sem que haja, anteriormente, um debate, às vezes surdo, porque se dá pela aquiescência das lideranças para tramitação dos projetos, mas permite que os projetos cheguem ao Plenário perfeitamente esclarecidos, como foi o caso das duas homenagens que hoje nós estamos prestando com a entrega dos prêmios que são conferidos ao Giba Assis Brasil e ao Jorge Furtado, que são decorrências da unanimidade da Casa. Em nome desta unanimidade, e fazendo contraponto, quero-me solidarizar não só com o Ver. Antonio Hohlfeldt, a quem eu vejo um pouco amuado pelo puxão-de-orelha que me deu. O Ver. Antonio Hohlfeldt não exerce, hoje, a sua diplomacia contumaz. Ao chegar à Casa, saudou o velhinho Jorge Furtado, depois me colocou fora do espetáculo no dia de hoje. Parece que, na sua juventude, que já não é tão grande e tão intensa, está querendo nos discriminar, Prof. Jorge Furtado, mas não conseguirá.

Nós vamos vir aqui, juntos, confraternizar com esses jovens que se afirmam num segmento difícil, porque a competição nessa área de cinema é das mais fortes. É tão forte que eu não imaginei, Ver. Lauro Hagemann - eu, que era do tempo das matinés musicais no Cinema Colombo, Cinema Orfeu, Imperial, Eldorado, Rosário -, que um dia nós tivéssemos que vir fazer lei, aqui na Casa, para que existissem casas de espetáculo, locais onde pudessem ser apresentadas produções cinematográficas.

Nós sabemos que, na passagem dos anos 50, dos anos 60, dos anos 70, foram ocorrendo algumas revoluções na indústria cinematográfica com o surgimento da televisão e tudo o mais, que já está amplamente decantado e apresentado, que mudariam os hábitos e gerariam dificuldades maiores ainda para um desenvolvimento independente dessas atividades que o Giba e o Jorge desenvolveram de forma idealista e, mais do que isso, com muito amor, com muito empenho, com muita vocação para o que fazem.

O Ver. Motta diz com muita propriedade que esta Casa não pode perder a visão global da sociedade. Nós precisamos olhar a Cidade como um todo na medida em que nós queiramos que este Plenário seja não só a pluralidade dos pensamentos políticos aqui representados, mas seja também a globalidade da visão do cotidiano da nossa Cidade. Num momento que até grande parte dos desportistas desta Cidade estão amargurados pelos insucessos desportivos, eu costumo colocar a situação de forma muito objetiva: nós precisamos valorizar as nossas coisas, aquilo que aqui se faz.

Por muito tempo, e de uma certa forma, eu tenho uma frustração contra o que eu chamo de colonialismo cultural dos baianos, dos nordestinos, que venderam a sua cultura para o Brasil todo, e especialmente através do cinema, e não o fizeram com grande eficiência. Aqui, as nossas manifestações, dentro da cultura cinematográfica, nós não só precisamos destacá-las, como temos que nos comprometer com que todo o esforço que faz o Ver. Lauro Hagemann para garantir pontos de exibição de filmes na nossa Cidade de Porto Alegre através de inteligente Projeto de Lei, para que não acabe se frustrando e não se transforme em mais um ponto de exibição daquilo que compramos enlatado de fora do País.

A nossa produção local, em que o Giba, em que o Jorge têm sido destaques tão grandes com todas essas obras que já foram aqui citadas... Temos que contribuir com essa produção para que outros Jorges e Gibas possam surgir, e que esse prêmio, que em boa hora o Ver. Motta conseguiu instituir aqui neste Legislativo, se renove com o surgimento de outros tantos valores que a gente tenha que aplaudir pelo bom trabalho que desenvolvem dentro da atividade que escolheram.

Permito-me, com a segurança de quem se sente à vontade no meio das pessoas que aqui se encontram, em ver e rever a Deputada Dercy Furtado, que comigo ingressou na vida pública, lá na outra Casa Legislativa de Porto Alegre, no nosso Paço Municipal, nos idos de 1973, quando eu era um jovem rebelde e era admitido, naquelas ocasiões, em reuniões como essa com a maior tranqüilidade. Fico feliz em vê-la sendo partícipe de uma homenagem, porque, quando se homenageiam os filhos, evidentemente está se homenageando os pais e as mães, porque todos sabemos que o homem sofre influência do meio e, especialmente, do meio onde se cria. Me permita o Giba que eu fale com mais intensidade neste particular com relação ao Jorge. O meio onde o Jorge se criou, um meio crítico, um meio onde as idéias sempre pululavam, ele não poderia deixar de dar àquela atividade que escolheu uma contribuição grande, relevante, como a que efetivamente está  dando.

Meus cumprimentos a vocês dois. Quero que vocês saibam que, de certa forma, hoje, vocês são nossos instrumentos aqui, dos Vereadores de Porto Alegre. Na medida em que aqui comparecem e que aqui vêm receber a nossa homenagem, vocês nos ajudam a cumprir a nossa tarefa de não ficarmos cegos para o conjunto da realidade da nossa Cidade.

Muito obrigado pela presença, e muito mais ainda: pelo trabalho que fazem, enaltecem a nossa Cidade e o nosso Estado. Meus cumprimentos. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido a todos os presentes para ficarem em pé para a entrega dos prêmios aos agraciados.

Convido os Vereadores Antonio Hohlfeldt e João Motta para entregarem o Prêmio de Cinema Eduardo Abelin para os cineastas Jorge Furtado e Giba Assis Brasil.

 

(É feita a entrega dos Prêmios.)

 

Vamos passar a palavra ao primeiro homenageado, Jorge Furtado.

 

O SR. JORGE FURTADO: Talvez eu devesse ler toda esta lista, pela ordem, mas eu vou, rompendo o protocolo, agradecer a todos os Vereadores pela lembrança do meu nome e, especialmente, ao Antonio Hohlfeldt, e dizer que eu me sinto totalmente em casa, com várias pessoas, amigos, conhecidos, pessoas que participaram muito de todos os trabalhos que eu fiz. Ser reconhecido pela cidade da gente é sempre melhor. Mesmo que a gente faça trabalhos fora, a gente sempre pensa como Porto Alegre vai receber os filmes, os trabalhos que a gente faz. Eu nasci aqui e gosto muito de Porto Alegre.

Nasci na Beneficência Portuguesa e moro na Pinheiro Machado. Quer dizer, em trinta e seis anos, eu andei 400 metros. Sempre volto a Porto Alegre porque gosto muito daqui. Esta homenagem da Câmara de Porto Alegre eu recebo com muita emoção.

Quero agradecer a todas as pessoas que participaram dos filmes, porque o cinema, entre todas as formas de arte, é a mais coletiva delas. O cinema é um trabalho de equipe, e os filmes não seriam bons sem os atores, os produtores, fotógrafos, diretor de arte, os autores dos argumentos, enfim, todas as pessoas que participam do filme são autores deste filme também. O diretor é apenas coordenador deste processo. Então, eu queria agradecer a todas as pessoas que participaram dos filmes que eu fiz, especialmente a Nora Goularte, que é a produtora dos filmes, e minha esposa há muito tempo. Eu me lembro quando a gente terminou "Barbosa"; a Nora disse assim: - "Esse foi o último." A gente já fez sete depois, mas ela continua dizendo isso porque fazer produção é uma coisa muito difícil.

Eu vejo as pessoas falando das várias ligações que a gente tem, e Porto Alegre é uma cidade pequena. Quando eu larguei a Medicina, pois queria fazer outra coisa, eu me lembro que fui assistir, no Clube de Cultura, ao "Deu pra ti anos 70", que estava em cartaz, e, vendo o espetáculo, eu me reconheci naquela história, naquele cenário, naquele ambiente, na vida daquelas pessoas. E disse: "eu poderia fazer uma coisa parecida com isso." E fui trabalhar lá no Clube de Cultura; trabalhei um ano no ateliê do Clube. Lembro que eu e o Peninha pintamos as paredes de branco mesmo; não era artes plásticas, não; pintamos mesmo de cal. Aquele ano, lá, foi divertidíssimo. Fui, depois, trabalhar na TV Educativa. Ao fazer o programa, a primeira pessoa que eu chamei para trabalhar conosco naquele programa foi o Giba, porque eu tinha visto seus filmes e quis que ele participasse daquele processo. Passamos a fazer uns curtas-metragens em 82. Quando eu e o Zé Pedro resolvemos fazer um filme, nós procuramos o Luis Fernando Verissimo. Pedimos uma história dele, que a gente estragou bastante. Depois, fizemos outros filmes, sempre com a colaboração de inúmeras pessoas, às quais gostaria de agradecer nesta hora.

Acho importante esse estímulo que se dá à produção cultural local, porque isto que aconteceu comigo, de ver um filme e se reconhecer naquele filme mesmo sem ter feito parte dele... De alguma maneira, fazia parte dele, porque conhecia aquela história, aquelas garagens, aquelas luzes, aquelas pessoas. Eu acho que isso pode acontecer também com outras pessoas. A produção cultural tem essa importância que, muitas vezes, não se percebe, que é a de o espectador se sentir vivo ao se reconhecer, fazendo parte de uma comunidade; as pessoas conhecem aquela música, cantam aquela música.

Para terminar, gostaria de dizer um poema do G. Campos, que acho muito bonito, que é assim: "Operário do canto, eu me apresento; / sem marca ou cicatriz, limpas as mãos; / minha alma limpa expressa o documento, / a palavra, conforme o pensamento, / fui chamado a cantar, / e, para tanto, / há um mar de som no búzio de meu canto. / Trabalho à noite e sem revezamento. / Se há mais quem cante, / cantaremos juntos, / sem de tornar, com isso, / menos pura a voz que sobe uma oitava; na mistura. / canto, apenas, nem que seja à boca livre,/ onde haja ouvidos limpos / e almas afeitas a escutar sem preconceitos. / Para enganar o tempo ou distrair criaturas, / já de si tão mal atentas, /não canto; / canto apenas quando dança, / nos olhos dos que me ouvem, a esperança." Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o nosso homenageado Giba Assis Brasil.

 

O SR. GIBA ASSIS BRASIL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores; demais autoridades presentes; Senhoras e Senhores. Sinto-me honrado em receber o prêmio. Agradeço à Câmara de Vereadores a homenagem, especialmente ao João Motta por ter lembrado o meu nome.

São muito importantes iniciativas deste tipo - não só como esta homenagem, mas, como bem lembrou o João, a composição deste roteiro, do qual faz parte este Projeto de Lei que diz respeito à exibição de curtas-metragens - que surgiram aqui nesta Casa, porque é aqui que se refletem e se consolidam os movimentos que existem na sociedade.

Sabemos que esta Casa nem sempre foi tão receptiva a iniciativas culturais, no mínimo à pluralidade que, necessariamente, acompanha toda a atividade cultural. Só para citar um exemplo, lembraria que, num passado não tão distante assim, aqui foram recusadas homenagens póstumas a Elis Regina, uma das maiores artistas que já surgiram nesta Cidade e neste País.

Lembraria, também, a importância do Projeto de Lei que o João Motta referiu, um projeto dele e do Ver. Lauro Hagemann, e o fato de que, se o nosso trabalho, tanto o meu quanto o do Jorge Furtado, chegou a ter alguma visibilidade, foi - não por escolha nossa, mas por circunstância desse País - no campo do curta-metragem. E só houve esta visibilidade no campo do curta-metragem porque existia, em nível nacional, a Lei do Curta, que permitia que a gente produzisse os filmes para que fossem exibidos, que permitia que a gente tivesse alguma garantia que os filmes seriam vistos. Daí a importância fundamental dessa iniciativa.

Diria que a criação do Prêmio Eduardo Abelin tem um significado muito especial, porque os outros prêmios culturais já existentes há algum tempo aqui na Casa, como bem lembrou o Antonio Hohlfeldt - o Prêmio Érico Veríssimo para literatura, o Prêmio Lupícinio Rodrigues para música, o Prêmio Qorpo Santo para teatro -, todos eles, sem dúvida, são conseqüência da convivência cotidiana da Cidade com essas atividades, com essas formas de expressão. O que o Prêmio Eduardo Abelin me diz é que, de uma forma ou de outra, o cinema que fazemos, de alguma maneira, está começando a ter esta vivência com esta Cidade. A existência desse prêmio me diz que, de um lado, o nosso cinema está tendo existência concreta para a sociedade e, de outro lado, que a sociedade está querendo, está desejando que esta convivência seja duradoura.

Eu diria, então, que é muito importante esse tipo de iniciativa, que nós precisamos desse tipo de iniciativa e que, se hoje estamos aqui, eu e o Jorge, dois colegas, dois amigos, dois sócios, dois representantes de uma mesma geração, recebendo esses dois primeiros prêmios, eu acho bastante possível e desejável que nos próximos anos estejam aqui, neste microfone, talvez, alunos meus ou, quem sabe, os meus mestres. E, quando a gente fala em gerações, a gente não fala mais em ciclos, que é como sempre a história do cinema brasileiro se referiu a tudo que aconteceu fora do eixo Rio/São Paulo - ciclos porque se abrem e, depois de um determinado tempo, normalmente curto, se fecham. Quando se fala em gerações, não se fala mais em ciclo: estamos falando em herança e em renovação. E só quando temos conjugadas herança e renovação é que podemos falar em cultura. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Mais uma vez, o exercício desta presidência me deixou muito feliz.

Eu queria dizer que vocês dois, que não são exatamente da minha geração, mas que traduzem e fazem aquilo que foi tão bem colocado pelos nossos representantes - o Antonio Hohlfeldt, o Motta, o Pujol, que completaram o discurso maior -, que, de fato, a Câmara Municipal de Porto Alegre assume uma dimensão que estava faltando: o Eduardo Abelin sendo homenageado por ser prêmio para quem está fazendo cultura nesta Cidade. Eu me sinto muito feliz por poder estar aqui dirigindo os trabalhos em nome da Presidência da Câmara - o Ver. Airto Ferronato não pôde estar presente neste momento -, principalmente por serem questões tão importantes e pessoas tão queridas e que, como foi dito por vocês mesmos, nós estamos estimulando o trabalho de vocês e de muita gente que não só nas suas equipes, mas em outras equipes estão tentando produzir alguma coisa neste País. Apesar das dificuldades, temos os Jorges, os Gibas e as equipes, que têm feito um trabalho magnífico, maravilhoso. Quando eu era estudante de Arquitetura, fizemos um desafio, em 1964, com a Univolante, e também um desafio com o Arquisamba. Nas primeiras apresentações em Porto Alegre do Arquisamba, vieram pessoas como Edu Lobo, Chico Buarque e Elis Regina, essa turma que passou a ser referência da cultura neste País.

Um abraço a todos vocês. Muito obrigado pela oportunidade de tê-los conosco na realização desta homenagem, a vocês e a todos os demais. (Palmas.)

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h18min.)

 

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